domingo, 27 de outubro de 2013

ARQUIPÉLAGO ENEM


O Brasil e seu povo submetem-se, atualmente, a uma verdadeira revolução cultural, marcada pela captura das expressões sociais por grupos, movimentos, organizações, instituições, partidos, supostamente autônomos, mas, de verdade, organicamente, sintonizados com a ideologia do “moderno príncipe” gramsciano. Exemplo dessa revolução é a conformação do Exame Nacional de Ensino Médio – ENEM em bitola ideológica para ingresso nas Universidades  públicas. 

A propósito, os estudantes que participam do ENEM poder-se-iam submeter a questões mais abrangentes sobre a literatura russo-comunista, tão ao gosto dos formuladores do exame. Assim, eles, estudantes, seriam questionados sobre o extrato abaixo, do livro “O Arquipélago Gulag”, de A. Soljenitsin (Supondo que os formuladores do exame conheçam a obra)




“Eis um pequeno quadro daqueles anos: está decorrendo (na região de Moscou) a conferência do Partido da zona. É dirigida por um novo secretário, em substituição ao recentemente detido. No fim da conferência é aprovada uma mensagem de felicidade ao Camarada Stálin. Como se compreende, todos se põem de pé (do mesmo modo que no decorrer da conferência todos saltavam da cadeira cada vez que era mencionado o seu nome). Na pequena sala ressoam “tempestuosos aplausos que se transformam em ovação”. Passam três, quatro, cinco minutos e são cada vez mais tempestuosos os aplausos, redundando numa ovação. Mas afinal começam a doer as mãos. Fatigam-se os braços levantados, já vão sufocando as pessoas idosas. Aquilo passa a ser estúpido até para aqueles que sinceramente admiram Stálin. Entretanto, quem é o primeiro que se atreve a parar? Poderia fazê-lo o secretário da zona, que se encontra de pé na tribuna e acaba de ler essa mensagem? Mas ele está ali há pouco tempo e encontra-se no lugar do recentemente detido, tendo ele próprio medo! Na verdade, na sala estão também de pé, aplaudindo, membros da NKVD e eles observam quem é o primeiro que se atreve a parar!... E os aplausos na pequena e desconhecida sala, ignorada pelo chefe, prolongam-se por seis minutos! Sete Minutos! Oito minutos! ... eles sucumbem! Estão todos perdidos. Não podem parar, enquanto não tombarem com os corações despedaçados? Ainda no fundo da sala, no meio do aperto, pode-se ludibriar um pouco, aplaudir mais devagar, não tão forte, não tão furiosamente, mas que fazer no Presidium, à vista de todos? O diretor da fábrica local de papel, uma personalidade forte, independente, faz parte do Presidium e compreende toda a falsidade, todo o beco sem saída da situação, mas aplaude!  ̶  Decorre o nono minuto! O décimo! Ele olha aborrecido para o secretário do partido da zona, mas fingindo êxtase nos rostos, os dirigentes da zona aplaudiram até cair. Até que fossem levados em macas! E, até esse momento, os restantes não vacilaram!... O diretor da fábrica de papel, no décimo primeiro minuto, fingindo-se atarefado, deixa-se cair no seu lugar, no Presidium. E oh! Maravilha! Esvaiu-se então o incontível, indescritível entusiasmo geral? De repente pararam no meio do mesmo aplauso e se sentaram todos de uma vez.  Estão salvos! O esquilo teve a ideia de sair da roda!...
Entretanto, é dessa forma que se conhecem as pessoas independentes. E é dessa forma que são postas de lado. Nessa mesma noite, o diretor da fábrica é preso. Com facilidade aplicam-lhe por outro motivo dez anos. Mas depois da assinatura 206 (documento que conclui as investigações) o comissário instrutor recorda-lhe:
  ̶  Nunca seja o primeiro a deixar de aplaudir!”

VOLTEI. Soljenitsin descreveu de forma absoluta a coisificação do ser humano, transformado em carne moída; e da sociedade, rebanho de animais prontos para o abate, pelo regime soviético de Lênin, Stálin e seus camaradas. Aqui, a combinação de Gramsci com Macunaíma, paulatinamente, transforma crianças, jovens, adultos em zumbis descerebrados.  

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