Há pouco, numa confraternização dominical, travei breve “debate”
com uma pessoa do “Lado Vermelho da Força”. Devota leiga do “Moderno Príncipe”
(gramsciano). O “debate” fez-se entre
aspas, porquanto, de fato, tratou-se de um tipo de não-debate, sobre mitos e verdades
políticas brasileiras, desde a redemocratização até o presente.
Então, hoje, lendo “O Iogue e o Comissário”, de Arthur
Koestler (edição de 1944), a propósito da distância entre o mito soviético e a
realidade daquele país, qual não foi minha surpresa, ao me deparar com a narrativa
semelhante ao do referido não-debate, exatos 70 anos atrás:
“À medida que o abismo
entre o mito soviético e a realidade se alarga, aumenta a curvatura dialética
na inteligência do crente, de sorte que ele pode achar natural que Ribbentrop
seja condecorado com a Ordem da Revolução, que se chame um milionário
protelário, e a uma mesa, lagoa de patos. Se passarmos em revista os editoriais
do Daily Worker durante os últimos dez anos, nos sentiremos como “Alice in
Wonderland”.
Nestas circunstâncias,
todas ou quase toda discussão com os adeptos do mito, pública ou particular,
está condenada ao malogro. O debate é, desde o início, removido do plano
objetivo; os argumentos não são considerados pelos seus méritos, porém pelo
fato de se enquadrarem ou não no sistema, e se não, como podem eles ser-lhe
adaptados. É um tipo de aproximação da realidade semelhante ao da criança que
examina qualquer objetivo que lhe caia nas mãos, com a intenção exclusiva de
descobrir se é comestível ou não (...)
O elemento afetivo não
se manifesta necessariamente por uma agitação exterior. O mecanismo de defesa
trabalha muitas vezes como uma máquina bem lubrificada. Quando em perigo, a
máquina automaticamente se transforma em um perguntador e argumentador
circular. Assim, muitas vezes acontece que o opositor perde a calma enquanto o
devoto preserva a sua – a sorridente superioridade do fanático e do sacerdote.”
Ora, confirma-se quão, se não inútil, estupefaciente é travar
qualquer espécie de debate com devotos de mitos políticos, propagadores de “Alice in Wonderland”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A liberação dos comentários obedecerá estrita e rigorosamente os critérios do proprietário do blog, observando, em primeiro lugar, os princípios legais.
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.