Durante o mês de junho de 2013, o Brasil experimentou intensas, espontâneas e legítimas mobilização sociais, que se espalharam por diversos Estados e mais de uma centena de Municípios. No seu clímax, mais de 2 milhões de pessoas se mobilizaram por diversas motivações e objetivos.
Sem se limitarem às competências legais, protestava-se, substancialmente, contra os políticos, a corrupção, os gastos estratosféricos com a Copa 2014, a extrema precariedade dos serviços de saúde, educação, segurança, os desvios de dinheiro público, a impunidade, os governos federal, estaduais, municipais etc.
Essa miríade de motivações não surgiu de uma hora para outra. Havia tempo, vinha constituindo-se o caldo social, que se espraiava pelas redes sociais, sobretudo na internet. Afinal, os problemas subjacentes não existiram de súbito. Dormitavam-se apenas, obnubilados pela mentirosa propaganda oficial dos governos, que, pretensiosamente, se mostrava transformando joio em trigo e fazendo pão que matava a fome de “justiça social” de 200 milhões de brasileiros, das classes A, B, C, D, E, F, G... Z, de quaisquer cores, credos, sexos etc.
Durante os momentos mais intensos das mobilizações, governos, partidos políticos, organizações sociais tentaram capturá-las, para seus próprios desígnios, mas foram peremptoriamente rechaçados. Exemplo disso, a presidente da República e seu partido, fazendo estulta interpretação do clamor social, tentaram fazer dos protestos contra eles próprios catapulta para sua exclusiva agenda política, outrora tentada e sistematicamente repelida pela sociedade. A novidade os fez tentar outra vez, primeiro, por uma estrovenga denominada “constituinte exclusiva para reforma política”; depois, mediante plebiscito para o mesmo fim.
Assim, meio acordado do sono profundo em berço esplêndido mas ainda um tanto sonâmbulo, o país permaneceu durante o mês de junho de 2013. Sem que governos, políticos, partidos, atores sociais, cientistas elaborassem um diagnóstico definitivo sobre aquelas mobilizações e suas causas e conseqüências. Naturalmente, esperavam o seu arrefecimento. Afinal, a vida tende ao ordinário. O que, de fato, vem acontecendo.
Ainda no curso daquelas extraordinárias mobilizações, institutos de pesquisa apontaram que a maioria da sociedade as apoiava. Consectário disso: cresceu substancialmente a taxa reprovação aos governos federal, estaduais e municipais de plantão, bem como aos partidos políticos em geral. É apropriado imaginar que esses atores políticos, até agora, incapazes de resolver os problemas que motivaram aquelas manifestações sociais, apegam-se à torcida para que refluam definitivamente, e o Brasil volte a dormir o sono profundo eternamente.
Contribuiria sobremaneira para o sucesso dessa torcida a apropriação narrativa histórica das referidas mobilizações. Nesse sentido, observou-se, já no mês de julho de 2013, que grupos organizados, nada espontâneos, prosseguiam praticando vandalismo, crimes, terrorismo, sob a fachada de “mobilizações sociais”, todavia bastante distintas daquelas do mês anterior. Eles não protestam contra os políticos, a corrupção, os gastos estratosféricos com a Copa 2014, a extrema precariedade dos serviços de saúde, educação, segurança, os desvios de dinheiro público, a impunidade, os governos federal, estaduais, municipais etc. Visam, de fato, promover o caos, aterrorizando o indivíduo, a sociedade e as instituições. Com que propósito?
Essas organizações de bandidos agem de forma coerente, visando a um objetivo aparentemente ainda não bem compreendido pela imprensa, pela sociedade e pelas instituições. Entretanto, era e continua sendo perceptível a sua atuação politicamente organizada, no sentido de desvestir aquelas mobilizações sociais havidas no mês de junho de 2013 da sua legitimidade, do seu extraordinário apoio social, inclusive, frise-se, medido por institutos de pesquisas.
Dessa forma, abriu-se oportunidade a que os detentores do poder político e econômico, mais fortemente estabelecidos, pudessem apropriar-se da narrativa histórica, pelo método stalinista, ou seja, conformando vandalismo, crimes, terrorismo, sob a fachada de expressão social e democrática, em “herança maldita” das legítimas e espontâneas mobilizações sociais que varreram o país durante o mês de junho de 2013. Até que essas terminem completamente apagadas da memória coletiva. E, em lugar delas, rediviva o Brasil da propaganda oficial dos governos, que provê o pão que mata a fome de “justiça social” de 200 milhões de brasileiros, das classes A, B, C, D, E, F, G... Z, de quaisquer cores, credos, sexos etc.
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