Entenda uma coisa: uma investigação dá trabalho. Muito trabalho.
Para quem vê a notícia pela televisão, a impressão é a de que as provas surgem por um portal mágico que se abre em um estalar de dedos da Polícia ou do Ministério Público. E que, se não surgiu, é porque "não trabalharam direito" ou "querem proteger alguém".
Em grandes causas, como a #LavaJato, as provas são obtidas a partir de interceptações telefônicas, cruzamento de dados, análise de milhares de documentos jurídicos, bancários e contábeis, delações, testemunhos e tudo o mais que a inteligência dos investigadores puder alcançar. E, acredite: tudo isso dá um trabalho dos diabos. Demora. Cansa.
Cansa não somente pelo trabalho em si mesmo. Cansa também pela pressão política permanente, pela exposição pública desmedida, pela maledicência elevada a patamares nacionais, pela manipulação da opinião pública, pela desinformação.
Cansa os olhos, a cervical, a lombar, a mente e o espírito.
Entendam que para a investigação de um único agente público - e sua consequente punição - a depender da dificuldade da prova a ser obtida, são necessários meses, e até mesmo ANOS de trabalho.
A coisa é minuciosa. Às vezes um único detalhe significa 2000 páginas para analisar. Para avançar um degrau, mais dez mil páginas, horas e horas de interceptações telefônicas, descarte de provas e depoimentos falsos, identificação de dados plantados, separação do joio do trigo. E acredite: isso é difícil, desgastante, leva tempo e exige profissionais extremamente qualificados.
Os resultados são gradativos. Vão aparecendo aos poucos, conforme o trabalho vai sendo realizado.
Desconfie de todo aquele que tenta desmoralizar esses profissionais, ou que apoia a perda de suas prerrogativas e até mesmo a diminuição de seus salários. Desconfie.
Parabéns aos envolvidos na Operação #LavaJato: imagino que não deva estar sendo fácil lutar contra o que há de pior nas entranhas carcomidas deste Brasil.
Por Ludmila Lins Grilo, Juíza de Direito em Minas Gerais, publicado no seu Facebook. Expressa o que sentimos.
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