Observando a elaboração da apelidada “Base Nacional Comum Curricular”, com suas incontáveis proposições, pelo Ministério da Educação, sobre o que deveriam debruçar-se cidadãos, famílias, professores, alunos, organizações sociais, instituições, partidos políticos, governos, uma ponderação:
“É evidentemente difícil identificar a qualidade que faz uma disciplina ser genuinamente educacional. Pode-se pensar que a natureza artificial de um diploma de ‘segunda ordem’ deriva de uma unidade artificial de um assunto de ‘primeira ordem’. Dizer que existe um assunto chamado ‘estudos de comunicação’, por exemplo – que se centra no discurso, no gesto, na pintura, na música, na televisão, na política e na fotografia -, é como dizer que há uma ‘teoria de buracos’, que aborda buracos em camisas, sapatos e na terra; buracos negros, buracos de fechadura e buracos em um argumento (talvez o assunto possa ousar verificar a verdade da asserção de Laurence Sterne de que ‘mais pecado e maldade entraram no mundo pelos buracos da fechadura do que por todos os outros buracos juntos’). O absurdo de ‘estudos de buracos’, porém, é de um grau diferente de absurdo de ‘estudos de futebol’, ‘estudos de comunicação’, ou ‘estudos midiáticos’, sendo mais parecido com o absurdo do rival continental recente – ‘semiologia’ -, que por certo empo dominou as humanidades na Itália e na França. Deriva de adotar uma classificação de primeira ordem sem uma base teorética, na qual nenhuma outra base é possível. Mesmo, contudo, quando o assunto de primeira ordem não tem unidade teorética, ele pode ainda ter uma unidade prática. E no caso da maioria das humanidades – inglês, estudos clássicos, história -, não precisa haver uma teoria nem prática em seu estudo, mas algo mais elusivo e, do ponto de vista educacional, mais válido do que ambos” (Roger Scruton, in “O que é conservadorismo”)
Realisticamente, digo eu, quanto mais inchado de disciplinas artificiais, mais inchado será o quadro de “profissionais” de educação, para atender às necessidades fictícias da “Base Nacional Comum Curricular”. Assim, será cada vez mais fácil politicamente exigir o cumprimento daquele objetivo sindicalista de se aumentarem os gastos com ensino público no Brasil de 5,2% para 10% do PIB, até o ano de 2024, conforme o Plano Nacional de Educação aprovado no ano de 2014. Em tempos crise econômica sem solução, de gastos públicos batendo 40% do PIB, o debate sobre a “Base Nacional Comum Curricular” deve refletir também sobre o custo orçamentário-financeiro para sua sustentabilidade.
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