“Como se chega a esse misterioso arquipélago? A todas as horas para lá voam aviões, navegam barcos e marcham trens, sem que neles se veja uma só inscrição que indique o lugar de destino. Os empregados das bilheterias e os agentes da Sovturist e da Inturist ficarão surpreendidos se você lhes pedir uma passagem para lá. Nem o arquipélago, no seu conjunto, nem de nenhuma das suas incontáveis ilhas eles têm conhecimento, ou ouviram sequer falar.
Aqueles que vão dirigir o arquipélago chegam lá por intermédio do MVD (Escola do Ministério do Interior).
Aqueles que vão ser guardas no arquipélago são convocados por intermédio de seções militares.
Aqueles que vão lá morrer, como você e eu, leitor, esses devem passar infalível e exclusivamente através da detenção.
Detenção! Será necessário dizer que isso representa uma brusca reviravolta em toda a sua vida? Que como a queda a pique de um corisco sobe a sua cabeça? Que é uma comoção espiritual insuportável, a que nem todas as pessoas podem adaptar-se, e que frequentemente leva à loucura?
O universo tem tantos centros quantos os seres vivos que nele existem. Cada um de nós é o centro do mundo e do universo, e ele se desmorona quando alguém nos sussurra ao ouvido: ‘Está preso!’
Se você já esta preso acaso algo terá ainda resistido a esse terremoto?
Incapazes, como o cérebro ofuscado, de abarcar esses abalos do universo, os mais sutis, exatamente como os mais simples de nós, não conseguem extrair nesse instante, de toda a sua experiência da vida, senão algo como:
– Eu? Por quê?”
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