segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

ALICE IN WONDERLAND

Há pouco, numa confraternização dominical, travei breve “debate” com uma pessoa do “Lado Vermelho da Força”. Devota leiga do “Moderno Príncipe” (gramsciano).  O “debate” fez-se entre aspas, porquanto, de fato, tratou-se de um tipo de não-debate, sobre mitos e verdades políticas brasileiras, desde a redemocratização até o presente.  

Então, hoje, lendo “O Iogue e o Comissário”, de Arthur Koestler (edição de 1944), a propósito da distância entre o mito soviético e a realidade daquele país, qual não foi minha surpresa, ao me deparar com a narrativa semelhante ao do referido não-debate, exatos 70 anos atrás:

“À medida que o abismo entre o mito soviético e a realidade se alarga, aumenta a curvatura dialética na inteligência do crente, de sorte que ele pode achar natural que Ribbentrop seja condecorado com a Ordem da Revolução, que se chame um milionário protelário, e a uma mesa, lagoa de patos. Se passarmos em revista os editoriais do Daily Worker durante os últimos dez anos, nos sentiremos como “Alice in Wonderland”.
Nestas circunstâncias, todas ou quase toda discussão com os adeptos do mito, pública ou particular, está condenada ao malogro. O debate é, desde o início, removido do plano objetivo; os argumentos não são considerados pelos seus méritos, porém pelo fato de se enquadrarem ou não no sistema, e se não, como podem eles ser-lhe adaptados. É um tipo de aproximação da realidade semelhante ao da criança que examina qualquer objetivo que lhe caia nas mãos, com a intenção exclusiva de descobrir se é comestível ou não (...)
O elemento afetivo não se manifesta necessariamente por uma agitação exterior. O mecanismo de defesa trabalha muitas vezes como uma máquina bem lubrificada. Quando em perigo, a máquina automaticamente se transforma em um perguntador e argumentador circular. Assim, muitas vezes acontece que o opositor perde a calma enquanto o devoto preserva a sua – a sorridente superioridade do fanático e do sacerdote.”

Ora, confirma-se quão, se não inútil, estupefaciente é travar qualquer espécie de debate com devotos de mitos políticos, propagadores de “Alice in Wonderland”.  

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